Você está entrando no Diário Gauche, um blog com as janelas abertas para o mar de incertezas do século 21.

Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 14 de setembro de 2007


Agrocombustíveis trazem de volta velhos problemas brasileiros

Infeliz coincidência. Enquanto o presidente Lula visitava os países nórdicos para divulgar o álcool como a salvação para eliminar a polução dos combustíveis fósseis, a Pastoral dos Migrantes noticiava, no dia 11 de setembro, a morte da quinta vítima por exaustão nos canaviais brasileiros, só este ano. Desde 2004, já são 21 vítimas.

Mesmo sem estar no Brasil, o presidente Lula não escapou de ser confrontado com as contradições da produção do álcool combustível. Poucos dias antes da viagem, a equipe da rede estatal sueca, Sveriges Television (STV), a maior rede televisão deste país, esteve no Brasil e fez entrevistas com trabalhadores rurais, cortadores de cana-de-açúcar – produto base do etanol – e pesquisadores em São Paulo e Pernambuco.

A reportagem foi exibida em rede nacional e levou para conhecimento dos suecos o real custo social a que vem se desenvolvendo a indústria dos chamados biocombustíveis no Brasil. A Suécia, um dos países visitados ao lado da Dinamarca, Finlândia e Noruega , é um dos maiores pesquisadores dos agrocombustíveis e está entre os maiores importadores do álcool brasileiro A rede de televisão entrevistou o presidente brasileiro e o questionou sobre a situação precária dos canavieiros. Lula respondeu que o Brasil vai criar uma espécie de "Certificado Social", para tentar evitar este tipo de trabalho que, muitas vezes, é análogo ao escravo.

Ainda por ocasião desta visita do presidente Lula, João Pedro Stédile, do MST, e Dom Tomás Balduíno, da CPT, produziram um artigo que trata das silenciadas conseqüências da expansão da cana-de-açúcar e da produção do etanol. O texto atenta para vários efeitos que já podem ser vistos, como: a degradação do meio ambiente. Segundo os autores, a expansão vai "ampliar a área de fronteira agrícola para a Amazônia e o cerrado (savana) — duas das regiões mais ricas em biodiversidade e berço dos principais rios do país, além de impedir que a sonhada reforma agrária seja realizada no Brasil".

Outro fator agravado pela indústria da cana é a precarização do trabalho nos canaviais, pois ainda segundo Stédile e Dom Tomás, "A meta de cada trabalhador é cortar entre 10 e 15 toneladas de cana por dia, o que tem causado problemas de saúde e no Estado de São Paulo (maior produtor do país), foram contabilizadas entre 2005 e 2006, 17 mortes por exaustão, dado o excesso de fadiga. O Ministério do Trabalho estima que 1.383 cortadores de cana morreram entre 2002 e 2006, no mesmo estado, por diversos problemas de saúde, ligados ao trabalho". As informações são do jornal Brasil de Fato.

5 comentários:

Anônimo disse...

"..o presidente Lula não escapou de ser confrontado com as contradições da produção do álcool combustível." Observem com que delicadeza, na pontinha dos dedos, o dono do site critica o governo central. É o máximo que ele consegue ver no governo revolucionário do Lula. Viva a Velhinha de Taubaté.

Anônimo disse...

Até o início do século 20 o Brasil era dependente dos ciclos de exploração econômica (pau-brasil, açucar, ouro e café, acho que são esses), quanto, então, lentamente começou um processo de diversificação da economia a par com o processo de urbanização. A partir de 1930 esse processo se aprofunda e culmina com os grandes projetos dos militares dos anos 1970, o que tornou o Brasil, em dado momento, a oitava economia do mundo. Ou seja, o Brasil tornou-se uma sociedade complexa e setorizada. O problema é que na atualidade estamos em um impasse, não temos política industrial e o sistema de infra-estrutura está fragilizado, o que pode estar nos reconduzindo para o ciclo, agora do biocombustível. Enfim a tal gloablização e desmonte do Estado, no limite, pode trazer um salto para o passado. Em resumo, o Brasil pode estar perdendo o bonde da história. Para aqueles que discordam sugiro a leitura, da parte final, do relançamento da Crítica da Razão Dualista do Chico de Oliveira.

Anônimo disse...

Essa violência praticada contra bóias frias no corte de cana, provoca a "birôla" - morte pelo esforço excessivo, igual ao "karoshi" do Japão. E os hipócritas dos usineiros e latifundiários continuam ganhando muito dinheiro às custas de vidas e da dignidades dos interioranos.

Anônimo disse...

Dificil esquecer que há poucos meses passados Lula chamou os usineiros de herois enão deu nem uma palavra sôbre os boias frias

Anônimo disse...

João!

Lula é o Presidente da República.
Acredito que não sou ingênua.
Queres mais conflito?
Quem segura?
Somos muitos/muitas...mas...
Cabe a quem: denunciar e fazer pressão?
Quem sacode as oligarquias?
Em tempo: está mais sólida do que nunca.

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

Arquivo do Diário Gauche

Perfil do blogueiro:

Porto Alegre, RS, Brazil
Sociólogo