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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 25 de setembro de 2007


Deputada pede licença para existir politicamente

Abaixo transcrevemos o discurso inteiro da deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) proferido por ocasião da Sessão de Homenagem aos 50 anos do grupo midiático-partidário RBS, realizado na Câmara Federal, no último dia 18 de setembro, às 11h48.

Manu finaliza o discurso laudatório com uma tradicional saudação chinesa – Longa vida à RBS! – muito usual nos tempos maoístas da sua legenda partidária, reconvertido depois a uma duradoura inspiração albanesa – aquela sociedade “modelar” do stalinismo retardatário de Henver Hodja. Hoje, o PCdoB está mais modesto, modela-se pelos figurinos das velhas raposas eleitorais do antigo PSD, que não podiam viver longe dos macios e silenciosos tapetes e passadeiras palacianos.

Assim, a jovem deputada “comunista” fez o seu debut oratório no parlamento brasileiro, pedindo ao patronato midiático da província licença para existir política e eleitoralmente. A parlamentar quer concorrer à prefeitura municipal de Porto Alegre na próxima feira eleitoral. No discurso abaixo ela mostra na íntegra a sua de-formação político-ideológica, e como o hilário protagonista do Samba do Crioulo Doido do imortal Stanislaw Ponte Preta, atravessa um Maquiavel-a-la-minuta na fala e depois espeta um Pierre-Bourdieu-requentado na conversa tão fluída quanto confusa.

Noves fora os esbarrões e orelhadas pseudo-culturais, Manu cumpre o seu desiderato: puxa solene e desavergonhadamente o saco escrotal dos dirigentes do grupo midiático-político-eleitoral RBS. Entregou a rapadura, como se diz no centenário Bar Naval, aquela reserva etílico-moral de sábios e doutos do Mercado Público de Porto Alegre. E quem entrega a rapadura antes das eleições – digo eu mesmo, por conta e risco – entregará o canavial inteiro depois...

E estamos conversados, vamos à peça oratória (observem a confusão mental da jovem, aqui marcados em negrito), ora pois:

A SRA. MANUELA D'ÁVILA (Bloco/PCdoB-RS. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente desta sessão solene, Deputado Luiz Carlos Busato; Sr. Diretor-Presidente do Grupo RBS, Nelson Sirotsky; Sr. Presidente do Conselho de Administração da RBS, Jaime Sirotsky; Sr. Vice-Presidente Executivo do Grupo RBS, Pedro Parente; Sr. Diretor-Geral do Grupo em Brasília, Paulo Tonet Camargo; colegas Deputados Mendes Ribeiro Filho e João Matos; senhoras e senhores jornalistas;

Sras. e Srs. Parlamentares; funcionários do Grupo RBS, ao cumprimentá-los, tenho certeza que todos construíram essa história lado a lado com aqueles que a conduziram e a dirigiram.

Faço esta homenagem ao Grupo RBS norteada fundamentalmente por dois sentimentos. O primeiro de ter orgulho de ver nosso Estado a partir do Grupo RBS e testemunhar isso mais intensamente após ter vindo a Brasília e esperar ansiosamente o acesso àquilo que acontece no Rio Grande do Sul, quando o representamos neste Parlamento.

Mas faço também, Presidente Nelson Sirotsky, com o sentimento de uma gaúcha que viveu 12 anos fora de Porto Alegre, no interior do Estado, e que sabe que a minha querida Pedro Osório - que o Deputado Mendes Ribeiro Filho insiste em dizer que é sua também -, Estância Velha, ali ao lado, ou Pelotas, onde também vivia São Lourenço, tornam-se cidades tão importantes quanto Brasília se o povo e a realidade do Rio Grande assim o exigirem. Falo isso como gaúcha que viu a integração do Rio Grande crescer e se fortalecer de longe, ainda na infância, quando distante da capital podia acompanhar e voltar para Porto Alegre, com a certeza de que sabíamos tudo ou quase tudo que por ali se passava.

E faço também com o sentimento de alguém que, nessa história estranha que é a vida, acreditou que exerceria a profissão de jornalista. E talvez por isso, pela formação, pelos anos que dedicou a isso, da infância até a formação na universidade, nesse espaço que passou a fazer política no curso de Jornalismo, convivendo com homens e mulheres que exercem a profissão, aprendeu que, na imensa maioria das vezes, não é verdadeira a visão maquiavélica - maquiavélica porque talvez nesse aspecto, quando nos referirmos a ele, deduzimos que teria uma visão simplista - de que a imprensa ou alguns órgãos de imprensa são adversários da sociedade.

Sr. Presidente, faço esta homenagem ao Grupo RBS na certeza de que esses 50 anos - permita-me dizer, dos que eu acompanhei, que não são todos evidentemente - consagraram-no como um grupo que respeita a diversidade e as diferentes opiniões políticas. E creio sinceramente, como dirigente nacional do Partido Comunista do Brasil, e tenho legitimidade para dizer isso, que muitas vezes outros setores da imprensa e da própria sociedade não tiveram o respeito que o Grupo RBS teve por mim, uma mulher jovem e comunista.

Vale ressaltar que sinto no Grupo RBS o compromisso em trazer ao público aquilo que é de seu interesse [interesse de quem, cara pálida?]. A meu ver, essa é a fundamental diferença entre o bom e o mau jornalismo. Quando trazemos para a população aquilo que é e deve ser da população, que tem o direito e o dever de saber, conhecer e aprofundar-se, temos a possibilidade de fazer um bom jornalismo. E, sinceramente, sinto isso por parte do Grupo RBS. Jamais vi especulações que se referissem à vida de qualquer pessoa pública que não à vida eminentemente pública dos homens e das mulheres do Estado do Rio Grande do Sul.

Tive oportunidade de visitar a belíssima exposição organizada pelos senhores, em comemoração aos 50 anos do Grupo RBS. Tenho certeza de que também é um momento de reflexões. Afinal, o grupo que teve a primeira redação informatizada deve certamente estar se preparando para os desafios da televisão digital e para enfrentar, como o maior dos grupos regionais do País, a entrada do capital internacional no mercado brasileiro.

Acho que o Grupo RBS utiliza esse momento de reflexão sobre o trabalho já feito e as vitórias já conquistadas para refletir sobre os anos que virão. Eu quero destacar o papel dos nossos grupos regionais e da televisão brasileira, sobretudo do Grupo RBS, na produção e na consolidação da cultura regional do Rio Grande do Sul. Muitos curtas do nosso Estado, e afirmo isso como estudante de comunicação, saem da universidade em que estudei, de estudantes que foram meus colegas. Por que será que temos um mercado de tantas bandas e um circuito cultural consolidado no Rio Grande do Sul? Não será pela contribuição que grupos regionais de mídia, como é o Grupo RBS, dão ao Estado e ao povo?

Portanto, essa é uma reflexão que todos devemos fazer independente das opiniões e diferenças que tenhamos pela frente.

Eu brincava com o Deputado Ibsen e dizia que dos nove oradores dois já haviam citado um sociólogo francês, mas que eu tinha um discurso pronto e o alterei porque a maior parte das coisas já haviam sido ditas. Porém, eu gostaria de citar o sociólogo Pierre Bourdieu, que dizia que o poder simbólico, que é o poder que a mídia carrega consigo, porque não é um poder institucionalizado, é o poder que nos faz ver e nos faz crer. Que todos nós possamos ver nos próximos 50 anos dias melhores no nosso Estado, que não vive uma situação fácil, e possamos crer que cada um de nós individualmente, e o Grupo RBS, tem o papel e o compromisso de nos ajudar a mudar a realidade e a vida desigual que nosso povo ainda enfrenta.

Muito obrigada.

Longa vida à RBS! (Palmas.)

...

Pescado diretamente da fonte, aqui.

15 comentários:

Anônimo disse...

"Uma mulher jovem e comunista" (sic). O que é isso? É de comer?

Anônimo disse...

Bom, o que eu posso dizer. EU AVISEI.
Venho dizendo isso a todos em na maioria dos blogs que anteriormente ovacionavam a descoberta de Manuela D'àvila como salvadora da política.
Sempre disse que ela tinha discurso fraco e infantil, e que iria dar um cotovelaço na esquerda em algum momento.
Desde a eleição dela para vereadora disse que era uma fraude, e quem a conhece pessoalmente só confirma a teoria.
A menina ainda vive com a cabeça no primeiro semestre da faculdade de jornalismo, onde nos é apresentado um livro do Pierre Bourdieu, aliás pode ter sido daí que ela tirou a citação inserida no seu discurso.

Cristóvão Feil disse...

Sil concordo contigo, mas não joguemos fora o grande Bourdieu junto com a água suja do banho de Manu.

A citação gratuíta e arrevesada (e por isso, pedante) do grande sociólogo não pode comprometer o citado, mas a quem o usou de forma oportunista e vampiresca.

O fato é que essa jovem precisa estudar mais e se preparar melhor, assim, talvez um dia, tenha o nosso respeito e a nossa consideração. Por enquanto, é deplorável vê-la assim jogada às feras.

Os meus amigos do PCdoB precisam revisar os fundamentos dos seus cursinhos de formação. Pelo visto, a coisa é muito precária, quase indigente.

Anônimo disse...

É isso aí, Cris!

Anônimo disse...

Mulher, "comunista" (e bota aspas nisso), jornalista, deputada enquanto baba-ovo dos patrões e da oligarquia midiática sulina.

Anônimo disse...

A única coisa verdadeira na Zero Hora é a data.

Anônimo disse...

Tudo que essa moça diz reproduz o senso comum mais vulgar. Ela quer ser líder mas é incapaz de portar um senso crítico no mínimo razoável. Neste sentido, ela é uma caricatura de líder, uma presa fácil do establishment midiático. E por isso, pode ficar perigosa.

Anônimo disse...

Acabei de almoçar um delicioso filé de peixe. Entro na corrida para dar uma espiadinha no blog antes de ir para o trabalho e acho que vou "vomitar". O que é isso belezinha????

Anônimo disse...

ovelha não é pra mato

Anônimo disse...

Na ZH nem a data é verdadeira. O jornal sai no sábado com data de domingo.

Que falta nos faz o falecido
"Gastão o Vomitador".

Anônimo disse...

Só para complementar, não desmerecendo o bourdieu, mas sim o uso do mesmo pela deputada.

Acho que de boas intenções o inferno tá cheio e não vejo com bons olhos essa menina, tudo em volta dela é superficial.

Anônimo disse...

PcdoB virou POdoB (Oportunista)... beleza?

Guilherme Mallet disse...

Essa guria mostrou-se uma vergonha. Mais que deixou de ver o Poder como um meio para atingir a almejada transformação social, para transformar o Poder num fim em si mesmo.

Vergonha, vergonha.

Anônimo disse...

Faço um comentário atrasado. Se ninguém ler paciência. Me desculpe Feil, mas o que falta a Manuela não é formação. O problema é que ela, assim como grande parte da nova "esquerda" assumiu o discurso e a defesa da burguesia. Ou alguém esperava algo diferente do PC do B? Ou será q o Dr. Aldo Rebelo falaria algo diferente? Por favor não devemos reproduzir a discriminação praticada por uma "elite" que desqualifica opiniões baseados em crit´´erios como idade, genero, cor...Manuela tem formação sim. Só que a utiliza de acordo com seus, e de seus "companheiros", interesses. Quando assumimos que o erro da "menina" é de caráter pessoal (até pq a MAnuela deve conhecer bem Bordieu não só pelo curso de jornalismo, mas o de C Socias)demonstramos claramente um alto grau de ingenuidade e, ao mesmo tempo, arrogância tipica da direita.

Anônimo disse...

Como muito bem colocou o companheiro acima "Essa guria mostrou-se uma vergonha. Mais que deixou de ver o Poder como um meio para atingir a almejada transformação social, para transformar o Poder num fim em si mesmo."

Saíamos portanto também de nossos pedestais de luta "ideológica" e passamos um pouco para luta social,o que sempre é importante.

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