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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 2 de outubro de 2007


TV pública começa com uma capitulação vergonhosa

Não consigo engolir a nomeação da jornalista Teresa Cruvinel para o relevantíssimo cargo de diretora-presidente da futura TV pública do Brasil – um ente público conceitualmente estatal.

A profissional trabalhou por duas décadas como empregada celetista da família Marinho – dona do grupo midiático que ajudou a consolidar os governos militares e ditatoriais que resultaram de um golpe contra a democracia e o Estado de Direito, perpetrado em 1º de abril de 1964. As organizações Globo representam o contrário do que se quer e pensa para o Brasil, e o governo do ex-metalúrgico Lula, ex-sindicalista combativo e ex-preso político da ditadura militar vai buscar alguém que justamente fez carreira na sucursal do inferno da nossa democracia. Alguém argumenta que a Cruvinel é o mais ameno dos profissionais da família Marinho. De fato é, mas não se trata de escolher o menos ruim de um balaio de peixes estragados.

A Cruvinel trabalhou no inferno por vinte longos anos, neste caso, me desculpem, é impossível não ter se abraçado com o diabo regularmente. Trata-se de um quadro contaminado, viciada pelo hábito banalizado de uma comunicação tradicional, contente, careta, pautada pelo senso comum mais embrutecedor e atravessada por interesses que não pode confessar nem a um padre de pedra.

As tarefas da TV pública são tão nobres quanto gigantescas. Uma das poucas iniciativas do governo Lula que trazem o selo da autenticidade de propósitos, e que podem contribuir para a construção de um contraponto à unidimensionalidade da mídia corporativa. Em outros países, a televisão pública foi a matriz de inúmeras iniciativas culturais de êxito, que tiveram frutos permanentes como: escola de audiovisiual e cinema, escola de escritores de roteiros, escola de dramaturgia (para teatro, tevê e cinema), etc. Como o Brasil é um país muito televisivo e pouco cinéfilo (ao contrário da Índia), uma rede pública de televisão seria o difusor privilegiado da imensa produção audiovisual de qualidade que não consegue exibição por ter que lutar de forma desigual com os gigantes da distribuição internacionalizada que monopolizam as poucas salas de projeção do País.

No setor de jornalismo, a TV pública pode também contribuir para quebrar a escrita pobre e colonizada dos noticiários da mídia corporativa e trazendo – finalmente – uma voz polifônica e plural, alternativa ao espírito puramente mercadológico que hegemoniza hoje o panorama informativo nacional.

São tarefas hercúleas que exigem coragem, determinação e um forte espírito público, que não pode estar marcado por acomodados compromissos privatistas ou tradicionais. Não se vê na Cruvinel nenhum destes predicados fundamentais para estar a frente de tão importante empreendimento público e muito menos projetos que animem a cena da nossa desolação com a pusilâniminade do governo Lula no tratamento com os players midiáticos brasucas.

Lula mais uma vez decepciona os seus eleitores, com a nomeação de Cruvinel. Ao mesmo tempo que propõe a justa criação de uma empresa pública que vai trabalhar nas superestruturas sociais no sentido de torná-las menos estreitas, plurais e polifônicas, capitula antes da luta, e concilia diante da tênue virtualidade de uma disputa no campo simbólico.

Vocês já imaginaram o que faria o ex-metalúrgico se fosse um enfrentamento pra valer?


17 comentários:

Anônimo disse...

estaria borrado, ora bolas

Anônimo disse...

"Lula mais uma vez decepciona os seus eleitores..." Quanta delicadeza, do dono do site. E ele ainda não "engoliu" a nomeação. Engole, sim, engole. Com jeitinho a turma vai engolindo, já engoliu tanta coisa e continua justificando e apoiando esse governo. Vai, engole, nene, engole.

Anônimo disse...

O governo Lula têm mêdo da organizações globo, falta-lhe coragem para o enfretamento, resta saber se é sinal de inteligência ou sobrevivência diante do perigo..

arkx disse...

um pouco de psicopatotologia da política?

o estilo de Lula passa por uma perene tentativa de ser aceito pelas elites.

em recente palestra no ciclo de debates "Mutações”, Maria Rita Kehl expôs como pessoas de origem humilde, ao terem uma grande ascensão social, acabam se envergonhando de seus pais, tendo-os como “fracos”.

há um recalque do valor do pai, que não é um “fraco”, já que foi pelo esforço dele, de base, que ocorreu a ascensão social do filho.

o humilde quando ascende socialmente tende a rejeitar seu lugar para inserir-se no campo dos vencedores.

com isto trai a si mesmo. trai seu desejo. para assumir como seu o desejo de um outro. identifica-se com os vencedores. e não com o “pai” que lhe forneceu a base para ascender socialmente.

em sua busca vã de aceitação, empenha-se em ser visto como um igual entre os iguais, para que possa desfrutar da majestade dos poderosos e participar do cortejo triunfante dos vencedores.

o traidor por excelência é o cortesão, como Polônio em Hamlet.

o resultado é a depressão. o sintoma social que revela a impossibilidade subjetiva de se participar levianamente da festa dos mercados. uma festa que só existe para poucos.

abraços

.

Anônimo disse...

Excelente arqx!

Anônimo disse...

Muito bom, Arqx! Mas em bom português é a velha e má "traição de classe".

Carlos Eduardo da Maia disse...

Maria Rita Kehl é uma deslumbradinha que só tem abobrinha na cabeça. Está longe de ser referência em sua profissão. Mercado é fato social. Não se pode ser totalmente a favor ou contra os mercados. Ele simplesmente existe. Um mal e um bem necessário. Mas uma tv pública tem que estar além dos mercados e não pode - e nem deve - ser movida por esses interesses. Não conheço muito bem Cruvinel, mas ela tem experiência em sua área e na gestão de sua área. O fato dela ter trabalhado na Globo e no jornal não significa que ela vá fazer uma gestão pró mercado. O que não pode acontecer é transformar a tv pública brasileira em foco de luta de classes para alimentar antagonismos sociais. Uma tv pública deve ser, necessariamente, republicana e nunca bolivariana. O resto... ah, o resto é choro dos reacionários deste país.

Anônimo disse...

MAIS UMA DOS NEO ANARCO-PETISTAS...


são, mas não querem ser!



Ah. Anônimo é quem não se identifica. Entendeu?

Anônimo disse...

Guto é um neo-mala-lucianista nas horas vagas e xaropão em tempo integral que não consegue picaretear nenhum terreninho pra nenhum incauto e começa a vir aqui para concorrer decerto com o Maia. Pra ver quem é mais porre.

Anônimo disse...

Guto, quem sabe tu comenta a nota do teu partido e aproveita nos manda a cópia da "autocrítica" da Lu Genro.

Anônimo disse...

Admitam que são filiados ao Pt.

São. Mas não são. Mas são. Quer dizer...são mas não são.

Ou seja...

Qdo convém: São
Qdo não: Não são

Viva o neo-anarco-petismo-antilulista!

E ainda me criticam...

É melhor que eu siga a vender meus terreninhos mesmo, senão eu posso começar a falar das atividades de uns e outros(hahahaha)...aí a coisa pega preço! Não me provoquem(hahaha)!

Pelo menos tenho posição. SOU PSOL. E defendo. Não me escondo. Não sou só qdo convém.

Anônimo disse...

Onde está publicada a autocrítica da Lu Genro, Guto, já que tu é tão transparente... vai dizer ou tem que pagar pedágio pro PSOL...

Anônimo disse...

Qdo se tem um partido firme ideologicamente, o próprio faz a crítica da prática de seus componentes.

Lembra que o Pt o fazia, qdo tinha ideologia?

Acho que o verdadeiro Edison não esqueceu...

Mas quem aqui escreve em nome dele não deve mesmo lembrar.

Anônimo disse...

caro gauche,
nao sei o caso dessa senhora mas há mais de trinta anos que trabalho pro que há de pior. Como só disponho da minha força de trabalho não encontro outro jeito de repor minhas energias prá tá todo dia, por mais de 8 horas diárias. Mas, observo, minha consciência vai e volta comigo...
Vc teria como me dá uns trocados prá garantia? Eu paro de trabalhar amanhã mesmo.

Anônimo disse...

"Em editorial lido ontem no "Jornal da Record", a emissora atacou a Globo, acusando-a de ter feito "uma operação covarde e leviana para impedir o sucesso do lançamento da Record News", com a presença do presidente Lula, na última quinta. A Record diz que a Globo sempre operou no "subterrâneo do poder constituído" e que já usou "o Brasil e os brasileiros para os seus interesses mais vis". Seria, segundo a Record, uma resposta à "pressão desesperada" que a Globo fez nos bastidores, na semana passada, para sensibilizar ministros de que a Record News é uma operação ilegal. Ao final do texto (clique aqui), a Record diz : "O monopólio da informação é um câncer para o Brasil."

do informativo Migalhas.

Anônimo disse...

Um comentário Acaciano:

Toda empresa é feita de seres humanos. Sabemos como é construída e divulgada a informação na Globo. E esta senhora se sujeitou às regras da Globo por vinte anos. E agora é chamada para "gerenciar" uma TV pública federal pela mãos do PT. Ó tempos, ó costumes.

Anônimo disse...

Não sei Azenha não trabalhou anos na Globo??? Hoje ele não é referencia para este "blog"?
Muito bem falou o companheiro acima, gostaria de conhecer o trabalhador q "escolhe" onde trabalhar...a luta de classes acabou Feil? Qual a solução? Fazer que nem os anrarco filhinhos de papai e rejeitar o trabalho? Como reproduzimos nossa condição material??? Para quem precisa, para classe trabalhadora, e ai desclpe a redundancia, o trabalho é um mal necessário, não para intelectuais de classe q nunca vivenciaram nenhuma experiencia sensivel de luta direta, de exploração..etc

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