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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008


A política do rato morto

Como muita gente, eu fiquei vivamente impressionado com as declarações de José Dirceu à revista Piauí. A princípio não entendi direito, mas, depois, conversando com algumas pessoas, recolhendo informações, sentindo o vento e o vôo das aves migratórias (que buscam comida, conforto térmico, e um ótimo desenvolvimento fisiológico), me sinto mais apetrechado para fazer um juizo - ainda que provisório - sobre tão desastrada manifestação pública de alguém que insiste em proclamar-se de esquerda.

É preciso informar, primeiramente, que não se tratou de uma entrevista-relâmpago, onde o sujeito é pego no contrapé, a quente, e sob pressão. Não. Foi uma entrevista a frio. A repórter da revista viajou com o sujeito por lugares, e a conversa se desdobrou em vários encontros, entremeados de muitas noites onde JD teve oportunidade de consultar seus travesseiros e ursinhos de pelúcia antes de soltar o verbo sobre temas que ele escolheu, pensou e falou livremente.

À primeira vista avulta o seguinte: é a fala do ressentido. De alguém que está perdendo o chão sob o seus pés e passa a agir em regime de "manotaço do afogado".

Motivos existem, senão vejamos. Berzoini havia sido amaldiçoado pelo Planalto. O presidente Lula, em meados do ano passado, chegou a largar sueltos à imprensa de Brasília sobre a sua indisposição com a então cúpula petista, que ele chamou de "aloprados". Então Berzoini, um dos aloprados, começou a negociar e a se afastar do seu antigo chefe, JD. O resultado exitoso está estampado nos números que alcançou para vencer o PED da sigla petista. Nesse ínterim subia a estrela da ministra-chefe da Casa Civil, hoje igualmente evidenciado em toda a parte. A ministra, para lograr êxito na construção de seu projeto presidencial, trata de iniciar um processo (correto) de desdirceucização do governo Lula, que, como se sabe, ainda tem legiões de admiradores e protegidos em quase todos os escaninhos do poder federal.
Com isso, Rousseff minava duas ordens de projetos no qual JD tem investido: um, sua sempre acalentada idéia de concorrer à presidência da República (conforme tinha acertado com Lula, em tempos idos); dois, suas investidas pelo mundo dos negócios e as relações de alto coturno que ele não esconde com mega-empresários de setores dinâmicos da economia internacional. Assim, Rousseff quebra-lhe as duas pernas, especialmente no momento em que o governo se prepara para botar pra quebrar nos investimentos bilionários do PAC, quando banqueiros, empreiteiros, investidores e negocistas estão necessitanto de "azeite" para melhor se movimentarem em Brasília. Rousseff coloca areia na máquina dirceuzista, e faz JD ficar à beira de um ataque de nervos.

Agora dá para entender parcialmente o comportamento desesperador de JD. Ele atacou, indiretamente, o presidente Lula, via Lulinha e sua Gamecorp. Atacou o PT/RS, por ser a sede da filiação partidária de Rousseff. E ao mesmo tempo mostrou uma carteira de clientes poderosos que estariam sob o seu controle, caso o governo queira que o PAC dê certo em determinadas áreas. Tudo blefe de (mau) jogador de pôquer, mas ele tenta mesmo assim.

Olhando de fora as bravatas políticas (fracassadas mas daninhas) de JD eu lembrei de uma passagem de "Furacão sobre Cuba", onde Sartre comenta os últimos tempos do corrompido governo de Batista, em 1957, e analisa a reação ambígua e deletéria da pequena burguesia esclarecida da ilha que, mesmo considerando que "há algo de podre no reino de Cuba" não admitia apoiar a guerrilha de Fidel Castro e Che. Por isso, fazia o que Sartre chamou de a "política do rato morto", em que "a gente sente um odor pútrido e procura o cadáver do rato", mas as motivações ideológicas da pequena burguesia fazem com que o animal morto nunca apareça.

José Dirceu carrega um rato morto na pasta, em meio a papéis velhos e denúncias requentadas e ressentidas, e supõe candidamente que com isso esteja fazendo a alta e justa política.

20 comentários:

Anônimo disse...

vc. foi ao ponto, Feil

Carlos Eduardo da Maia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Eduardo da Maia disse...

Dirceu sempre carregou rato morto na pasta, mas o que ele falou sobre o PT do RS e o famoso e enigmático Clube da Cidadania --criado pelo amiguinho oculto Diógenes de Oliveira com dinheiro sabeládaondevem -- está longe de ser uma grande mentira. Um 2008 mais democrático e justo para todos, sobretudo os excluídos, que é exatamente isso que o Brasil precisa.

Anônimo disse...

Diógenes, Clube da Cidadania, sede do PT etc. são assuntos que foram objeto de julgamento em duas instâncias do Poder Judiciário brasileiro. Os reús foram absolvidos nas duas cortes. Não há ratos aí, nem vivos nem mortos. Quem levanta esse tema é porque está peticionando para agregar fatos novos. Que o faça no Ministério Público, onde for, só não pode ficar com meias-palavras, insinuações torpes e sugestões canalhas.
Quem tiver novidade sobre isso vá à Promotoria Criminal, mas vá logo e correndo.

Anônimo disse...

Só falta, aliás nem sei se falta, ver o ZD sair por aí pedindo voto para o Serra, o Aécio e cia. Que nojo!

Anônimo disse...

Se eu bem conheço o Zé ele não vai deixar barato pra ministra Dilma. Zé é mau como um pica-pau. Ele não disse que "os gaúchos que me aguardem"?

Carlos Eduardo da Maia disse...

Mendes, o Collor foi absolvido e o Brasil inteiro sabe quem ele foi e o que ele fez. Diógenes de Oliveira e sua voz gravada pedindo para a polícia não reprimir o crime organizado, amiguinho oculto de uma grande personalidade do PT boa luta, pode ter sido absolvido, inocentado etc. etc. etc., mas o RS inteiro sabe (porque ouviu sua voz gravada e reconhecida) quem ele foi e o que ele fez. E quem está requentando o café é um dos amiguinhos preferidos de Fidel.

Anônimo disse...

O processo contra Collor foi mal instruído por seus amiguinhos, por isso ele foi absolvido.
O processo do Clube da Cidadania e do Diógenes de Oliveira foi instruído pelo pit-bull e promotor público e deputado antipetista Vieira da Cunha. Não havia no RS melhor promotor contra o Diógenes e o Clube da Cidadania e contra o Olívio e o PT. Não havia.
Portanto, esse processo não tinha vício de origem nem falha ou ausência documental. Pois ainda assim houve absolivição em duas cortes.

Mas não perca seu tempo aqui no blog do Feil, vá correndo à Promotoria Criminal, caso contrário vc. corre o risco de levar um processo do Diógenes, que já tem vários contra seus caluniadores.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Mendes, o RS todo escutou a voz gravada do Diógenes para a polícia não reprimir o crime organizado. Quem é o dono desta voz, Mendes, e por que ele disse isso?

Anônimo disse...

Cristóvão, acho que o zé dirceu agendou outra plástica. Por isso está queimando a imagem da atual personal idade, para ressurgir das cinzas do próprio caráter. Será facilmente identificado pela sua falta: de dirceu, de caráter, de personalidade. Dilma nele!

Anônimo disse...

A entrevista foi gravada? prá escrever tão bem uma entravista a moça deveria ser estenógrafa,não?
Um homem com o porte político de JD deveria ter gravado a entrevista...senão vai ficar no "dizquemedisse".Muito estranho mesmo...Ele nem precisaria no blog dele colocar uma defesa estranha,era só transcrever a gravação...

abraço sueli

joice disse...

que baita análise, Cristóvão! disse tudo.

Anônimo disse...

José Dirceu desmentiu esses pontos da acusação. Não foi uma entrevista, mas acompanhamentos por vários dias.
Creio que vale a dúvida. Dirceu não é bobo e nem nasceu ontem.

A direita predadora e separatista vibra quando a pp. esquerda se bate e se acusa.

armando

Anônimo disse...

Não sejam otários.

JD disse mesmo tudo o que saiu na Piauí (uma bela revista, aliás), pelas razões apontadas com precisão pelo Feil.

Qualquer tentativa de livrar a cara dessa figura só vai fortalecê-lo.

Anônimo disse...

Que pressa do anônimo das 15:39 em dizer que é verdade o que saiu na Piauí. Quem o mandou: o DEM ou os tucanos? Espertão!

Anônimo disse...

Ora, quem disse que era verdade foi o próprio Zé.

Vcs. esqueceram que ele deu entrevista à rádio Gaucha e pediu desculpas ao PT-Rs por ter magoado alguns companheiros, e que apenas estava repetindo fatos conhecidos?

Os peixes e os canalhas morrem pela boca.

Anônimo disse...

Os sonhos de grandeza do Zé viraram mesmo um rato morto. Um rato embalsamado, mas morto. Ele segue carregando esse corpinho sem vida na sua pasta de negócios. Cada um carrega os fantasmas que consegue suportar.

Anônimo disse...

maravilhoso: a pretensa esquerda iguala o discurso da direita medíocre. E queremos mudar o país. Pra onde? Com essa esquerda de sociologia de boteco de grife?

Anônimo disse...

Paradoxal o anônimo acima: por que dá ranking ao que ele denomina de "esquerda de sociologia de boteco de grife"? Eu me recuso a ler Reynaldo de Azevedo e Josias de Souza por exemplo. Não suporto a direita, aceito meu sectarismo e pronto. Jamais verão meu IP "navegando" por estes blogues. Não perco meu precioso tempo, nem deixo msgs bestas como esse sujeito que nem assina, ainda por cima!
Quanto a JD, estava presente em sua primeira aparição pública pós-cassação, na Faculdade de Comunicação da UFRJ em abril de 2006. Impressionou o carisma do homem e o nº de apoiadores ao seu redor, tratando-o com o maior carinho e respeito. Eu fiquei chocada com o que vi e tentei "olhá-lo" sob a mesma perspectiva dos meus pares: a de um homem "vitimado" pelas oligarquias do congresso nacional. Nenhum "piu" sobre seu suposto envolvimento nos escândalos que se desdobraram naquilo que foi chamado de "mensalão" - o que, como se sabe, não foi provado. O mais importante foi que não me deixei convencer com tamanha disposição em absolver JD. Tanto é verdade, que li uma excelente entrevista sobre um trabalho de um advogado a respeito de poder e mídia publicado em seu blog, mas não o publiquei no Dialógico. Recebi a mesma por endereço eletrônico, chequei a fonte, e não a publiquei. Nesse ponto, tb o responsabilizo pelo desvio dentro do PT e, tal qual os direitosos que não freqüento, nem leio, não dou espaço ao que Dirceu publica. De "esquerda" como essa, quero distância.

Anônimo disse...

zé é ratão de partido

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